O ensino da língua numa perspectiva socioemocional

Hoje é comum ouvirmos nos discursos  sobre a importância do fator socioemocional para às interações humanas. Nas empresas, nas escolas, nas comunidades em geral este é um tema moderno e muito debatido. Mas é essencial que os discursos saiam do papel e sejam aplicados.  A ideia aqui é trazer este tema para  nós. Para o exercício da língua materna, para o aprendizado da língua portuguesa. O que é dito nos diferentes níveis da educação seja em palestras, reuniões, na BNCC ou em livros técnicos tem sido posto em prática em todos os segmentos da educação?

A princípio, para falar em socioemocional é preciso conhecer, respeitar e saber relacionar-se com as emoções diversas no dia a dia. Principalmente administrando as próprias emoções. O que é muito complicado, diga-se de passagem. Etimologicamente a palavra socioemocional “se refere de maneira simultânea, ao mesmo tempo, a preceitos sociais e emocionais, falando especialmente do modo como as pessoas orientam suas emoções em relação a outras pessoas: habilidades socioemocionais”.

Como amantes da língua portuguesa, o que é mais importante o meu conhecimento acadêmico e as notas ou resultados atribuídos a ele? A forma como interajo com as pessoas no meu ambiente de trabalho, alunos e colegas? O meu conhecimento acadêmico aplicado e transmitido com empatia na interação com alunos e colegas? Ou ainda o meu conhecimento acadêmico e o conhecimento dos meus alunos aplicados simultaneamente com empatia e resiliência nas interações professor e aluno; e aluno com aluno? No último caso, a nota (resultado) viria apenas avaliar não somente o conhecimento acadêmico; todavia o conhecimento acadêmico mais relacionamento socioemocinal.

Seria louvável se o conhecimento acadêmico mais a relação socioemocional formassem o todo no que diz respeito ao resultado (a nota). Afinal não é isto que estão anunciando em alta voz os discursistas? O problema é que o que se diz não tem sido reproduzido na prática. E o que vemos nas instituições educativas, sejam elas nível fundamental, médio ou superior, é a supervalorização das “notas” em detrimento do fator socioemocional. O que, em português leva a uma aprendizagem descontextualizada, a dificuldade de interpretação e consequentemente de relacionamento interpessoal, à falta de criticidade, e principalmente a ausência de empatia.

O que percebemos, por exemplo, nas redes sociais, pior que grafia errada, a incoerência e falta de coesão em alguns comentários e pôsteres; é a falta de empatia, de respeito aos diferentes pontos de vista, de compreensão e interpretação de textos, falas e opiniões; a ausência de bons argumentos na defesa da própria ideia. O discurso de ódio que é manifestado nos veículos de comunicação pode estar sendo fortalecido por uma educação que só visa resultados numéricos, vantagens e premiações por conta destes resultados e a total desconsideração dos valores éticos, relacionamentos sociais e emocionais.

É Coerente refletir sobre como avaliar um aluno globalmente, ou seja, se o conhecimento que ele adquiriu o ajudou a ser uma pessoa melhor. Considerar se no dia a dia o meu aluno foi capaz de: resolver algo difícil, concentrar em alguma tarefa, comunicar-se com respeito, empatia e clareza, lidar com alguma frustração, adaptar-se às mudanças, ser persistente em seus objetivos, construir algo novo, buscar e formular respostas; e como ele demostra ser consciente em relação a sua responsabilidade social e ambiental.

Portanto, mais importante que decorar conteúdos descontextualizados é aprendê-los em função de uma sociedade melhor; encontrar caminhos para que o conhecimento adquirido possa ser útil e empregar o  aprendizado, no caso de português, no relacionamento com as pessoas de forma que a comunicação  seja assertiva e ao mesmo tempo humanizada. Se eu aprendo e emprego a minha língua materna dentro de um contexto e com empatia ela será eficiente meio de comunicação. E a aprendizagem das normas terá sido funcional e significativa.

Por Jocimar Esther

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